domingo, 11 de outubro de 2009

O verdadeiro ciclo da vida

O homem nasce, cresce, se reproduz, envelhece e morre. É assim que a gente aprende na escola sobre o ciclo da vida. Mas será que de fato a gente começa a viver quando nasce? Não me refiro ao dilema moral a respeito de quando efetivamente começa, com toda a abordagem científica. Refiro-me muito mais ao aspecto filosófico, sobre quando de fato pensamos a respeito de nós mesmos, quando nos damos conta de que somos um ser vivo, e nos damos conta de passado, presente e futuro.
"Penso, logo existo" (René Descartes, 1596-1650)
A gente não costuma pensar nisso, mas fui assaltado por estes pensamentos nestes dias. Me dei conta de que, para nossos pais, a nossa vida pode ter começado desde a idéia de ter um(a) filho(a). E que nenhum de nós se lembra de quando nossos pais tiveram a certeza de que estávamos no ventre da mãe. Os primeiros chutes, primeiras mexidas na barriga. Ou até mesmo depois de nascido, o parto - curiosamente éramos o centro das atenções, mas não nos dávamos conta disso. A primeira vez que nossa mãe pegou no colo, a festa que podem ter feito, o batismo, as primeiras sílabas ditas, o primeiro dia de aula.

Para estes pais, nossas vidas começaram muito antes do que nos lembramos, e esta parte de nossas vidas nos escapa, é apenas deles. Pra nós mesmos, tudo isso foi ironicamente ocultado em nosso subconsciente.

Quanto a mim, as primeiras lembranças que tenho de minha própria vida são de quando eu tinha aproximadamente quatro anos de vida. São poucas e remotas, algumas confusas entre realidade e sonhos. Depois, a gente vai lembrando de outros fatos, e eles vão se tornando mais reais.

Até que, depois de um tempo, a gente começa a tomar as rédeas de nossas vidas. A gente se dá conta de quem é, começa a formar a própria opinião, a definir uma personalidade consciente. E com isso, vamos dependendo cada vez menos dos nossos pais.

Passamos a fazer os primeiros planos, e em seguida começamos a dar passos para realizá-los. O tempo vai passando, e a gente vai vendo que a vida é muito mais do que imaginávamos. Os desenhos das casas e dos carros que desenhamos na infância, na promessa de montá-los quando adultos já não fazem mais sentido.

Os coleguinhas de escola passam a ser substituídos pelos amigos de verdade. Até que, dentre os amigos, conhecemos alguém que ascende nosso coração, e então sai de casa, e casa. Uma pessoa entre mil, alguém que acrescenta muito em nossa vida, e que também pensa o mesmo ao seu respeito. Ambos crescem juntos.

Nesse crescimento, o amor cria raizes cada vez mais profundas, até que nenhum jardim do mundo parece suficiente para ser percorrido. É preciso germinar, da fruto. Tudo começa com idéias, com planos, e aí o filho sai da cabeça e vai ao ventre do casal.

Este bebê, que ainda não é percebido por menino ou menina, já marcou, até aí, a vida dos seus pais para sempre. Sobretudo se for o primeiro, porque os pais, que antes possuiam uma grande autonomia sobre suas próprias vidas, passam a se dar conta de que terão de cuidar de um ser completamente dependente no início. Uma mudança completa de pespectiva.

Mas o bebê não se dá conta disso. Não até que, depois de alguns anos, possa também mudar de lugar. De filho(a) a pai (ou mãe).

Pra mim, este é verdadeiramente o ciclo da vida. Parece-me assustador, e ao mesmo tempo sublime. O momento em que a criatura humana mais se parece com a do criador. Uma graça sem comparação. Um mistério, um milagre do cotidiano que nunca se repete da mesma forma.

2 comentários:

  1. Todo ser humano é designado a reproduzir e tem a responsabilidade de dar continuidade a vontade de Deus que dês do inicio foi de dar a vida. Este ciclo é fantástico! Deve ser aproveitado com todos seus detalhes. Da descoberta, ao nascimento, dos primeiros passos, ás primeiras conquistas...
    Realmente não temos noção da imensidão do amor que nossos pais têm por nós até assumirmos o mesmo papel.
    Marcela Ozório

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  2. Que texto lindo, brilhante. Concordo com o que está escrito, realmente só nos damos conta desse ciclo da vida quando deixamos de ser filhosd e passamos a ser pais. È quase um milagre quando isso acontece, e nos deixa presos pelo resto de nossas vidas. È um amor incondicional, esse que sentimos pelos nossos filhos
    Maisa costa

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