terça-feira, 20 de maio de 2008

Julgamentos

Havia numa aldeia um velho muito pobre, mas até reis o invejavam, pois ele tinha um lindo cavalo branco... Reis ofereciam quantias fabulosas pelo cavalo, mas o homem dizia:
Este cavalo não é um cavalo para mim, é uma pessoa. E como se pode vender uma pessoa, um amigo?

O homem era pobre, mas jamais vendeu o cavalo. Numa manhã descobriu que o cavalo não estava na cocheira. A aldeia inteira se reuniu e disse:
Seu velho estúpido! Sabíamos que um dia o cavalo seria roubado. Teria sido melhor vendê-lo. Que desgraça!

O velho disse:
Não cheguem a tanto. Simplesmente digam que o cavalo não está na cocheira. Este é o fato, o resto é julgamento. Se trata-se de uma desgraça ou de uma benção, não sei, porque este é apenas um julgamento. Quem pode saber o que vai se seguir?
As pessoas riram do velho. Elas sempre souberam que ele era um pouco louco.

Mas, quinze dias depois, à noite e de repente, o cavalo voltou. Ele não havia sido roubado, ele havia fugido para a floresta. E não apenas isso: ele trouxera uma dúzia de cavalos selvagens consigo. Novamente, as pessoas se reuniram e disseram:
Velho, você estava certo. Não se trata de uma desgraça, na verdade provou ser uma benção.

O velho disse:
Vocês estão se adiantando mais uma vez. Apenas digam que o cavalo esta de volta... quem sabe se e uma benção ou não? Este é apenas um fragmento. Você lê uma única palavra de uma sentença – como pode julgar todo o livro?
Desta vez as pessoas não podiam dizer muito, mas interiormente sabiam que ele estava errado. Doze lindos cavalos tinham vindo...

O velho tinha um único filho, que começou a treinar os cavalos selvagens. Apenas uma semana mais tarde, ele caiu de um cavalo e fraturou as pernas. As pessoas se reuniram e, mais uma vez, julgaram. Elas disseram:
Você tinha razão novamente. Foi uma desgraça... Seu único filho! Perdeu o uso das pernas, e na sua velhice ele era seu único amparo. Agora você esta mais pobre do que nunca.

O velho disse:
Vocês estão obcecados por julgamento. Não se adiantem tanto. Digam apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe se isso é uma desgraça ou uma benção. A vida vem em fragmentos; mais que isso nunca é dado.

Aconteceu que, depois de algumas semanas, o país entrou em guerra, e todos os jovens da aldeia foram forçados a se alistar. Somente o filho do velho foi deixado para trás, pois se recuperava das fraturas. A cidade inteira estava chorando, lamentando-se porque aquela era uma luta perdida e sabiam que a maior parte dos jovens jamais voltaria. Elas vieram até o velho e disseram:
Você tinha razão, velho. Aquilo se revelou uma benção: seu filho pode estar aleijado, mas ainda esta com você. Nossos filhos foram-se para sempre.

O velho disse:
Vocês continuam julgando... ninguém sabe! Digam apenas que seus filhos foram forçados a entrar para o exército e que meu filho não foi. Mas somente Deus sabe se isso é uma benção ou uma desgraça.


Não julgue, porque dessa maneira jamais se tornará um com a totalidade. Você ficara obcecado com fragmentos, pulará para as conclusões à partir de coisas pequenas.

Quando você julga, você deixa de crescer. Julgamento significa um estado mental estagnado. E a mente deseja julgar, porque estar em um processo é sempre arriscado e desconfortável.

Na verdade, a jornada nunca chega ao fim. Um caminho termina e outro começa: uma porta se fecha, outra se abre. Você atinge um pico, sempre existirá um pico mais alto.

Aqueles que não julgam estão satisfeitos simplesmente em viver o momento presente e de nele crescer... somente eles são capazes de caminhar com Deus.

2 comentários:

  1. Rapaz... difícil seguir os conselhos desse "velho".... mas são palavras bem sábias! O esforço pode valer a pena!

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  2. Parabéns pela qualidade do texto, Anderson. Que importante refletir nos acontecimentos e guarda-los no coração, entregando tudo a Deus, como fazia Maria e de alguma forma esse velho sábio.

    Um abraço!

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