Finalmente, o marido se levantou do banco, deixando dinheiro na mão do mendigo. Sua postura já estava diferente. Agora, com passo enérgico, voltou para casa, tomou banho, fez a barba e se vestiu com todo cuidado. Saiu sem dar explicações e sua mulher, que já não o amava, se mostrou levemente curiosa com a sua nova atitude. Voltou à noite, bem tarde.
No dia seguinte, cumprimentou gentilmente sua mulher e foi trabalhar. Na volta, vestiu um calção, calçou tênis e fez uma longa caminhada noturna. Dormiu com excelente disposição. O dia seguinte foi igual, talvez melhor. Sua mulher, que não o amava, e seus filhos se surpreenderam. Parecia ter perdido a tristeza. Ganhara uma força e uma elegância que a família nunca antes tinha notado. Continuou a ser gentil com a mulher, mas nunca mais lhe pediu desculpas ou explicações, nem exigiu que fizesse amor com ele.
Passaram-se semanas. A atitude do marido continuava firme e a disposição otimista instalou-se de vez. A mulher sentia-se cada vez mais intrigada com a mudança miraculosa do marido e teve mais simpatia por suas novas atitudes, sábias e moderadas. Embora ela persistisse em não amá-lo, ele melhorava seu desempenho como pessoa e como pai. Agora, os amigos o procuravam. Era evidente que tinha se transformado num homem sábio.
Quanto a mim, sou um sujeito profundamente curioso, talvez por ser escritor e fui à mesma praça onde estivera o marido a fim de procurar o mendigo. Pude reconhecê-lo imediatamente. Sem vacilar, sentei-me a seu lado. Apresentei-me e perguntei o que ele tinha dito para o marido. Sorrindo, o mendigo me respondeu:
-- Ah, lembro... não dei grande conselho. Disse-lhe apenas que, com minha experiência de mendigo, aprendi que nunca se deve pedir dinheiro e, pelas mesmas razões, jamais se deve suplicar amor. Essas são duas coisa que sempre nos negam quando as pedimos.E sorrindo, acrescentou:
-- O dinheiro, a gente ganha; o amor se conquista.
Não me pediu nada. Mesmo assim, agradecido, dei-lhe R$ 100,00.
Autor desconhecido.
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